quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

pra que alguém encontre, quando eu perder

todas as cartas que eu não mandei estão salvas no meu último backup. todas as noites em claro estão presas debaixo do meu colchão. todos os amores que eu não vivi estão escondidos no fundo das gavetas. toda a dor, no fundo dos armários. todas as mágoas e desejos estão soterrados sob uma pilha de papéis dentro de um baú lacrado por uma fechadura imaginária. e eu não faço a mínima ideia de onde guardei a chave.

eu queria não ter perdido. queria resgatar a preguiça dos meus sorrisos com você. queria silêncio e música alta.
e mais papéis para soterrar ainda mais as coisas, ainda mais coisas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

turbulência

o certo seria se flutuasse perfeitamente. sem desvios ou escalas não programadas. sem nenhuma agitação desordenada ou buracos entre as nuvens. o certo seria uma espécie de linearidade.
mas não é. na maioria das vezes você não sabe a que veio nem pra onde vai. você se perde em seu próprio caminho. determina destinos que nunca nem sequer ousariam existir. e você programa as coisas, como se elas pudessem ser programadas.
mas, no fim, qual é mesmo o caminho errado? talvez sem momentos de desordem a viagem se tornaria entediante, monótona, e você pedisse pra descer na primeira possibilidade.
talvez seja por isso que existam as turbulências: pra transformar perspectivas. e reafirmar o amor.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

pai

ele tem os olhos mais expressivos que eu já conheci. e a voz mais emocionante.
talvez por causa da combinação ele seja também, o melhor contador de histórias.
as histórias mais bonitas que já ouvi, e o melhor jeito de contá-las.

por causa dele, eu acredito até hoje em super-heróis.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

você, ou talvez eu

nenhuma daquelas coisas continua igual. agora, e em definitivo, elas já não são mais as mesmas. nem de longe. e nem você.
ou talvez seja apenas você.

talvez agora você possa se impregnar de si mesma.
talvez as portas estivessem sempre abertas e você precisasse não de chaves, mas de óculos.
e talvez agora você se esqueça de medir. da forma mais espontânea possível, sem todo aquele esforço que você fazia, sempre acabando por medir ainda mais. sempre contando, sempre cobrando.
não cobrar é muito mais fácil. só sentir, ainda mais.
e sentir com menos vontade de doer é melhor ainda.


" - a paz de estar em par com deus."

sexta-feira, 24 de julho de 2009

em carne-viva

ele tinha se impregnado em todos os lugares. da casa, da rua, dela mesma. tudo lembrava a ele: as vagas na rua, a praça, as luzes, os medos, o vizinho, o elevador, o espelho do elevador, o sofá da sala, a caneca que cabia mais, as louças pra lavar no domingo, a água da geladeira, o espelho do banheiro, a escova de dente dentro do armário, as fotos no mural, o filtro no teto, os livros, o remédio, as roupas, o colar que não estava mais no pescoço, o celular, os números, as gavetas, os planos, os medos, a bolsa nova e as velhas, a foto na carteira, o fundo de tela do computador, os presentes, os sonhos, os travesseiros, os abraços telepáticos, os filhos que iriam ter. o silêncio. as palavras. a espera. a esperança. a vontade. os medos. e o amor.

terça-feira, 30 de junho de 2009

tempo de partir

deve mesmo ser assim, isso que as pessoas chamam de ciclo da vida.
o ciclo natural da vida é ver partir.
partir dessa pra melhor, dessa dimensão pra outra. partir pra outra cidade, outro estado, outro país. trocar de corpo. trocar de rua. de amor. porque trocar também é deixar partir.
o problema definitivamente, é quando todos partem ao mesmo tempo. e não é porque já é quase julho, mas apenas porque é tempo de partir. deixar para trás cômodos, coisas, corações.
de repente todos parecem ir embora, menos você. logo você. você que sempre achou que era a mais desprendida, a que mais quis ir pra longe. você é a que mais está por perto. talvez não estagnada, mas movendo-se aos milímetros. e não aos quilômetros, como você sempre quis. talvez por isso as partidas já não sejam tão sentidas, tão sofridas. e também talvez por isso você as sinta tanto. é contraditório, mas você de fato é assim: disfarça tanto e mente tanto pra si mesma que acredita.
então por fim, sem mais lágrimas, analogias ou o que quer que seja, deixe-os. deixe que partam. corte os cordões umbilicais ou todas as outras formas de ponte.
mas depois e o quanto antes, recosture os laços e emende os retalhos das vidas desprendidas em você.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

da espera

rabsica enquanto espera. rabisca.
mantém a calma. não liga, não vai embora.
espera. (e não desespera)

não ouve voz onde não tem.
não vê o que não está lá.
não há coração, onde não há.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

alguma (ou nenhuma) verdade

na verdade, eu liguei porque queria te perguntar até onde vai o amor. mas eu desisti antes mesmo de você atender o telefone. antes mesmo de pensar em perguntar. porque talvez, assim como eu, você não faça a mínima ideia da resposta.
eu até poderia tentar saber sozinha, como venho tentando, mas sempre me dá aquela coisa, sabe? aquilo que me aperta o peito no fuuuundo. aquela angústia tão densa que me dá ânsia de vômito. aquilo que me deixa chata, reclamona e meio birrenta. mas a verdade mesmo, é que eu bem queria saber.
até onde vai a vontade de estar sempre junto, sempre perto, sempre de mãos dadas. sempre qualquer-coisa-desde-que-seja-junto. a mania estúpida de querer dormir abraçando tudo que é seu, pra fingir que já é você. a coragem de fazer tudo errado até que um outro tudo dê certo. até onde vai a saudade desmedida. o coração sempre prestes a se partir. a necessidade de contar, de ouvir, mesmo que seja só pra dormir tranquilo porque ouviu a voz do outro por x minutos.
mas talvez, na verdade, eu não queira saber. afinal de contas, quase sempre, saber pode ser doído ou demorado. pode ser só de um lado. e pode, até mesmo, ser invisível.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

monocromático

agora fica assim: preto no branco.
as coisas já não são mais as mesmas, e eu já não sou mais tão crua. pinto minhas muitas cores em meio tons de cinza e você acredita.
as coisas querem se esclarecer. você diz que sim, mas não deixa. eu me esforço, e algumas coisas acabam surgindo: conclusões precipitadas, invenções, deduções, ponto-e-vírgula, pontos-final. mas no fim, vários pontos-final são reticências. só que pra mim já basta delas.
quero mais assim 'pão pão, queijo queijo', mais praticidade, mais realidade, menos fixação. mais contraste na falta de cor.
e as coisas continuam coisas e talvez não queiram se esclarecer. mas nós continuamos falando em metáforas.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

páginas em branco, objetos coloridos

sabe quando você já não entende mais? é assim. você já não sabe se é mesmo tão necessário sentir ou ser, e se dá pra acreditar ou não. e isso por si só já é não acreditar. se esforçar pra não doer, dói muito mais do que se imagina. porque afinal, nem se quer se imagina.
é não se afogar na própria dor, se alçar pela própria consciência. mesmo que às vezes o que mais se quer é não ter tanta consciência. ficar imune.
e esquecer. apagar. se apagar. desapegar.